NPE 23: Por uma bioeconomia da socio-biodiversidade na Amazônia: lições do passado e perspectivas para o futuro
Compatibilizar as metas de preservação e conservação do bioma amazônico com os objetivos mais amplos de crescimento econômico e inclusão social do país tem representado, nas últimas décadas, um enorme desafio para as políticas de desenvolvimento para a Amazônia. Entretanto, o aprofundamento do processo de degradação acelerada do bioma amazônico e seus efeitos deletérios sobre as condições de sobrevivência da população local, tal como observado mais recentemente, têm revelado que a estratégia de compatibilização dos objetivos de preservação, conservação, crescimento econômico e respeito à diversidade produtiva, social e cultural da região amazônica está ainda bem longe de ser efetivamente viabilizada. Isso porque, entre outras razões, as diretrizes do modelo de crescimento econômico vigente nas últimas décadas têm imposto uma estratégia implícita de homogeneização do espaço regional. Por tal estratégia entende-se o movimento amplo e irrestrito de modernização da Amazônia com base em atividades rurais de monocultivo de grãos, soja e outros, e culturas permanentes como o açaí e o dendê, e a produção de pecuária extensiva e atividades predatórias de extração indiscriminada de madeira. Logo, faz-se necessário elaborar uma estratégia de desenvolvimento para a Amazônia que leve em consideração as diversas formas de produção constituídas endogenamente durante séculos na região, as quais consolidaram maneiras alternativas de convivência, adaptação e aprimoramento dos sistemas econômicos locais em relação aos ecossistemas ambientais e sociais em constante processo de transformação. Entre essas formas bastante adaptadas de produção, que precisam ser fortalecidas com o objetivo de valorização da diversidade do bioma amazônico, podemos destacar a produção florestal não madeireira (PFNM), tal como argumentado ao longo desta Nota de Política Econômica.
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