NPE 17: O Imposto de Renda da Pessoa Física no tempo: um breve histórico do discurso político brasileiro nas reformas tributárias

Esta nota é o pri­mei­ro pas­so de um pro­je­to de pes­qui­sa que bus­ca ava­li­ar o efei­to da pro­gres­si­vi­da­de do Impos­to de
Ren­da da Pes­soa Físi­ca (IRPF) sobre o cres­ci­men­to econô­mi­co. A par­tir de infor­ma­ções da Recei­ta Federal,
mon­ta­mos uma base de dados com 118 leis que alte­ra­ram a legis­la­ção do IRPF entre 1947 e 2020. Em segui­da, as
clas­si­fi­ca­mos quan­to à jus­ti­fi­ca­ti­va polí­ti­ca apre­sen­ta­da com a pro­po­si­ção da lei. Iden­ti­fi­ca­mos que a mai­o­ria das
mudan­ças legis­la­ti­vas foram jus­ti­fi­ca­das como for­mas de aumen­tar o cres­ci­men­to econô­mi­co de lon­go pra­zo (28%) e
moder­ni­zar o sis­te­ma tri­bu­tá­rio (20%). Pou­cas leis tive­ram como obje­ti­vo ale­ga­do alte­rar a dis­tri­bui­ção de ren­da (15%). As leis res­tan­tes se pre­o­cu­pa­vam com ques­tões de cur­to pra­zo como infla­ção, arre­ca­da­ção e cená­ri­os de cri­se. Esta aná­li­se nar­ra­ti­va das mudan­ças na lei é com­ple­men­ta­da com um estu­do da evo­lu­ção do IRPF ao lon­go de três perío­dos: os anos entre o Esta­do Novo e a Dita­du­ra Mili­tar (1947–1963), os anos da Dita­du­ra Mili­tar (1964–1985) e a Rede­mo­cra­ti­za­ção (1986–2020), que nos per­mi­te rela­ci­o­nar a evo­lu­ção his­tó­ri­ca do IRPF com o dis­cur­so polí­ti­co por trás das refor­mas pro­pos­tas. No pri­mei­ro perío­do, embo­ra as mudan­ças do IRPF visas­sem prin­ci­pal­men­te aumen­tar a arre­ca­da­ção da União, as medi­das ado­ta­das levam a um gran­de aumen­to da pro­gres­si­vi­da­de do impos­to. Duran­te a Dita­du­ra, há rela­ti­va­men­te mais leis jus­ti­fi­ca­das com base numa pre­o­cu­pa­ção com a dis­tri­bui­ção de ren­da, espe­ci­al­men­te a par­tir de 1975, mas cuja imple­men­ta­ção não foi sufi­ci­en­te para rever­ter a ten­dên­cia de aumen­to da con­cen­tra­ção de ren­da duran­te o perío­do. Já duran­te a rede­mo­cra­ti­za­ção, por outro lado, há pou­cas leis moti­va­das por uma pre­o­cu­pa­ção com a desi­gual­da­de de ren­da, e a jus­ti­fi­ca­ti­va de moder­ni­za­ção do tri­bu­to é a mais comum. A que­da na pro­gres­si­vi­da­de do IRPF duran­te a rede­mo­cra­ti­za­ção é refle­xo de leis que foram jus­ti­fi­ca­das por seu cará­ter “moder­ni­zan­te” ou “sim­pli­fi­ca­dor”. Nes­te sen­ti­do, a nova pro­pos­ta de refor­ma do IRPF, jus­ti­fi­ca­da em ter­mos de moder­ni­za­ção do tri­bu­to e sem efei­to rele­van­te sobre a desi­gual­da­de de ren­da, con­ti­nua a ten­dên­cia his­tó­ri­ca de subu­ti­li­za­ção do IRPF como ins­tru­men­to de redis­tri­bui­ção de renda.