NPE 46: Economia do Bico (ou gig economy) no setor de transportes e entregas: desigualdades regionais e raciais

Esta Nota de Polí­ti­ca Econô­mi­ca tem como obje­ti­vo tra­çar o per­fil dos tra­ba­lha­do­res da Eco­no­mia do Bico no setor de trans­por­tes e entre­gas, com um recor­te raci­al e regi­o­nal. A Eco­no­mia do Bico (ter­mo tra­du­zi­do do inglês Gig Eco­nomy) se refe­re a uma moda­li­da­de de empre­go carac­te­ri­za­da pela infor­ma­li­da­de, fle­xi­bi­li­da­de, pre­ca­ri­za­ção e des­re­gu­la­men­ta­ção das rela­ções de tra­ba­lho. A iden­ti­fi­ca­ção dos tra­ba­lha­do­res des­te seg­men­to foi fei­ta com base nos dados da PNADc para o 2º tri­mes­tre de 2023. Pri­mei­ro, iden­ti­fi­ca­mos uma evi­den­te pre­do­mi­nân­cia mas­cu­li­na no setor (94% de homens). Além dis­so, veri­fi­ca­mos dife­ren­ças subs­tan­ci­ais no per­fil e na situ­a­ção labo­ral de entre­ga­do­res, moto­ris­tas e moto­ta­xis­tas, com recor­te de desi­gual­da­des raci­ais e regi­o­nais. Os moto­ris­tas são os tra­ba­lha­do­res mais velhos, mais esco­la­ri­za­dos e mais bem remu­ne­ra­dos das três ati­vi­da­des. Por outro lado, os moto­ta­xis­tas são os menos esco­la­ri­za­dos e têm pior remu­ne­ra­ção. A desi­gual­da­de raci­al no que se refe­re à ren­da média obti­da em cada uma das ati­vi­da­des se sus­ten­ta ao lon­go de todo o perío­do ana­li­sa­do, de 2016 a 2023. Há uma con­cen­tra­ção de moto­ris­tas e entre­ga­do­res no Sudes­te, enquan­to moto­ta­xis­tas situ­am-se majo­ri­ta­ri­a­men­te no Nor­des­te. Obser­va­mos uma dife­ren­ça raci­al nos ren­di­men­tos: tra­ba­lha­do­res bran­cos rece­bem, em média, mais do que tra­ba­lha­do­res negros. Vale res­sal­tar, porém, que sob uma pers­pec­ti­va intrar­re­gi­o­nal, este padrão não se veri­fi­ca para cer­tas regiões e pro­fis­sões, nas quais tra­ba­lha­do­res negros podem rece­ber mais do que bran­cos. Inves­ti­ga­mos a pos­si­bi­li­da­de de este dife­ren­ci­al raci­al ser uma con­sequên­cia de desi­gual­da­des regi­o­nais e encon­tra­mos que o ren­di­men­to efe­ti­vo por hora tra­ba­lha­da é bas­tan­te menor no Nor­te e no Nor­des­te, regiões com mai­or con­ti­gen­te de tra­ba­lha­do­res negros. O que nos­sos resul­ta­dos suge­rem, por­tan­to, é a neces­si­da­de de com­bi­nar as aná­li­ses regi­o­nal e raci­al para com­pre­en­der as dinâ­mi­cas de ambas as esfe­ras de desi­gual­da­des na Eco­no­mia do Bico no setor de trans­por­tes e entre­gas e, de modo mais geral, no Bra­sil. Em outras pala­vras, uma hipó­te­se que emer­ge é em que medi­da não há uma deter­mi­na­ção con­jun­ta des­sas desi­gual­da­des estru­tu­rais, de modo que regiões com mais pes­so­as negras são jus­ta­men­te aque­las que apre­sen­tam meno­res rendimentos.