NPE 44: Quais os possíveis impactos do Novo Programa Bolsa Família? Uma análise sobre os efeitos do novo PBF nos índices de pobreza e extrema pobreza e sobre o PIB
A aprovação da PEC da Transição e, em especial, a definição dos valores dos benefícios do Novo Programa Bolsa Família (Novo PBF) para o ano de 2023 foram debates centrais para estruturação da agenda econômica do novo mandato presidencial de Lula. Já no começo de março de 2023, o Governo Federal editou uma Medida Provisória (MP 1.164/2023) formalizando a estrutura do Novo PBF, transformada na Lei 14.601 em Junho pela Câmara dos Deputados. Tendo em vista a importância do programa de transferência de renda para a presente gestão, esta Nota busca estimar os impactos na distribuição de renda e no nível de atividade econômica de três diferentes cenários para o Novo Programa Bolsa Família, incluindo aquele oficializado com a medida provisória.
Na primeira proposta (P1), o benefício retorna ao valor base de 2022 de 400 reais por família. A segunda (P2) mantém um benefício único de 600 reais por família, como vinha ocorrendo com o Auxílio Brasil na véspera da eleição. Por fim, tem-se a estrutura que foi aprovada e regulamentada pela MP 1.164/2023 (P3), que estabelece o benefício base de 600 reais podendo ser acrescido por um conjunto de remunerações variáveis: adicional de 150 reais por criança menor de 6 anos de idade; adicional de 50 reais por crianças e adolescentes de 7 a 18 anos de idade; e um adicional de 50 reais para mulheres gestantes.
Nossas simulações consideram os efeitos sobre a atividade econômica e taxas de pobreza caso as regras do Novo PBF tivessem sido implementadas em novembro de 2022. Encontramos que com o valor aprovado para o Novo PBF é possível retirar aproximadamente 5,1 milhões de pessoas da pobreza e 6,8 milhões de pessoas da extrema pobreza. Este impacto praticamente dobra o efeito de simplesmente manter o benefício no valor que o Auxílio Brasil tinha ao fim de 2022 (P2). Em particular, o Novo PBF (P3) afeta diretamente o grupo populacional de pessoas negras: os benefícios variáveis têm um papel importante para atingir esse grupo, sendo capazes de retirar por si só 1,26 milhão de mulheres negras e 1,06 milhão de homens negros da extrema pobreza.
Nesse sentido, o Novo PBF tem a capacidade de reduzir o hiato de pobreza extrema entre pessoas brancas e negras, em função dos benefícios variáveis para gestantes e para o cuidado de crianças e adolescentes, o que beneficia diretamente os grupos populacionais responsáveis pelo trabalho de cuidado na sociedade brasileira, tipicamente mulheres negras (Marques et al, 2022).
Calculamos também o efeito das propostas no PIB, ou seja, o potencial que o gasto do governo com o benefício tem de movimentar a economia de forma indireta, através de dois métodos de estimação, o primeiro via Matriz de Contabilidade Social (MCS), que gera estimativas mais conservadoras, e o segundo a partir do uso de multiplicadores fiscais já estimados pela literatura especializada. Via MCS, estimamos que a implementação das regras do Novo PBF ao final do ano passado (P3) poderia ter gerado um impacto de 1,66% do PIB contra 1,49% do PIB no cenário em que o auxílio é mantido em 600 reais (P2). Já utilizando os diferentes multiplicadores fiscais estimados pela literatura, encontramos que a proposta do Novo PBF implementada gera um impacto no PIB que varia entre 6,1% e 9,5%.
Referências bibliográficas
Bergamin, José; Serra, Gustavo Pereira; Sanches, Marina da Silva; Gomes, João Pedro de Freitas; Nassif-Pires, Luiza. Quais os possíveis impactos do Novo Programa Bolsa Família? Uma análise dos efeitos do Novo PBF nos índices de pobreza e extrema pobreza e sobre o PIB. (Nota nº 044). MADE/USP.