NPE 35: Regras fiscais no Brasil e no mundo: o que é preciso saber antes da nova proposta do governo?

Em dezem­bro de 2016, por meio da Emen­da Cons­ti­tu­ci­o­nal nº 95, o Con­gres­so apro­vou a inclu­são de uma nova regra de con­tro­le das des­pe­sas pri­má­ri­as do gover­no fede­ral no arca­bou­ço fis­cal bra­si­lei­ro. Ao esti­pu­lar que os gas­tos públi­cos fede­rais estão auto­ri­za­dos a se ele­var ape­nas de for­ma a com­pen­sar as per­das infla­ci­o­ná­ri­as do ano ante­ri­or, o cha­ma­do “Teto dos Gas­tos” bra­si­lei­ro propôs um dese­nho ins­ti­tu­ci­o­nal pro­ble­má­ti­co que, não obs­tan­te, vai na con­tra­mão das expe­ri­ên­ci­as inter­na­ci­o­nais mais recen­tes: sua rigi­dez exces­si­va o tor­na difí­cil de ser cum­pri­do; sua vigên­cia se sobre­põe ao fun­ci­o­na­men­to de outras regras fis­cais exis­ten­tes no país; sua tra­je­tó­ria não apon­ta para o cum­pri­men­to de obje­ti­vos de médio ou de lon­go pra­zo; e o cará­ter ací­cli­co de sua ope­ra­ci­o­na­li­za­ção tem con­tri­buí­do não ape­nas para adi­ar a recu­pe­ra­ção econô­mi­ca que era pre­vis­ta com sua apro­va­ção, mas tam­bém para for­ta­le­cer dis­cur­sos que pena­li­zam a pro­vi­são de ser­vi­ços públi­cos essen­ci­ais como a saú­de, a edu­ca­ção e a segu­ri­da­de soci­al. Hoje, em 2023, há con­sen­so de que o Teto de Gas­tos pre­ci­sa e será subs­ti­tuí­do, como já ficou cla­ro na dis­cus­são em tor­no da PEC da Tran­si­ção. Mais ain­da, há a expec­ta­ti­va de que o Gover­no Lula apre­sen­te uma pro­pos­ta alter­na­ti­va de arca­bou­ço fis­cal ain­da nes­te pri­mei­ro semes­tre, reto­man­do um deba­te neces­sá­rio acer­ca do papel da polí­ti­ca fis­cal nes­te e nos gover­nos que se segui­rão. A pre­sen­te nota pro­cu­ra ser­vir como um pon­to de par­ti­da infor­ma­ti­vo para este deba­te que ten­de a res­sur­gir. Ten­do em vis­ta que o anún­cio de uma nova pro­pos­ta de regra fis­cal enca­mi­nha­rá o deba­te em uma dire­ção espe­cí­fi­ca, esta Nota ofe­re­ce algu­mas refle­xões neces­sá­ri­as a serem con­si­de­ra­das a pri­o­ri: O que são regras fis­cais e por­que elas exis­tem? Como elas têm evo­luí­do no mun­do (espe­ci­al­men­te na Amé­ri­ca Lati­na) e qual é o esta­do atu­al do deba­te sobre o melhor dese­nho dos arca­bou­ços fis­cais? Por que o Teto de Gas­tos não se encon­tra em con­for­mi­da­de com as ten­dên­ci­as inter­na­ci­o­nais e quais as alter­na­ti­vas que vêm sen­do pro­pos­tas para o Bra­sil? Com esse pano­ra­ma, esta Nota pre­ten­de ser­vir à melhor com­pre­en­são do deba­te sobre a ado­ção de arca­bou­ços fis­cais, apon­tan­do para cer­tas espe­ci­fi­ci­da­des que pre­ci­sam ser leva­das em con­si­de­ra­ção pelo novo regi­me fis­cal que subs­ti­tui­rá o Teto de Gas­tos brasileiro.