NPE 33: A política monetária de elevações na taxa de juros reforça desigualdades de gênero e raça no Brasil?

Esta Nota resu­me os resul­ta­dos obti­dos pelo Wor­king Paper 013, no qual dis­cu­ti­mos os efei­tos de aumen­tos na taxa Selic no desem­pre­go sepa­ra­dos por gêne­ro e raça no Bra­sil. Fren­te ao deba­te públi­co cor­ren­te, segui­do da deci­são da pri­mei­ra reu­nião do Copom de 2023 de man­ter a taxa Selic a 13,75%, enten­der os efei­tos des­ta polí­ti­ca mone­tá­ria para dife­ren­tes gru­pos demo­grá­fi­cos é essen­ci­al. Como os homens bran­cos tra­di­ci­o­nal­men­te ocu­pam uma posi­ção pri­vi­le­gi­a­da no mer­ca­do de tra­ba­lho, todas as esti­ma­ções foram fei­tas em com­pa­ra­ção a este gru­po. Mos­tra­mos que homens negros são o gru­po mais afe­ta­do após uma mudan­ça nos juros, com­pa­ra­ti­va­men­te a homens bran­cos. Um aumen­to de um pon­to per­cen­tu­al na Selic real (a taxa Selic des­con­ta­da da infla­ção) aumen­ta o desem­pre­go de homens negros com­pa­ra­do ao de homens bran­cos em 1,22 pon­tos per­cen­tu­ais. Isso sig­ni­fi­ca que, mes­mo con­tro­lan­do a com­po­si­ção seto­ri­al e o nível edu­ca­ci­o­nal, o impac­to nega­ti­vo de uma polí­ti­ca mone­tá­ria con­tra­ci­o­nis­ta é mai­or para os homens negros quan­do com­pa­ra­do ao efei­to para os homens bran­cos. Mudan­ças na taxa de juros não têm efei­to no desem­pre­go de mulhe­res negras em com­pa­ra­ção a homens bran­cos. Já para as mulhe­res bran­cas, o efei­to é nega­ti­vo, isto é, um aumen­to de um pon­to per­cen­tu­al na Selic real dimi­nui em 1,46 pon­tos per­cen­tu­ais o desem­pre­go de mulhe­res bran­cas com­pa­ra­do com homens bran­cos. Estes efei­tos são inten­si­fi­ca­dos em regiões onde o per­cen­tu­al de popu­la­ção negra é bai­xa. Con­cluí­mos que a polí­ti­ca mone­tá­ria de ele­va­ções na taxa de juros não é neu­tra quan­to a gêne­ro e raça no Bra­sil. O impac­to dis­tin­to de polí­ti­cas públi­cas sob a pers­pec­ti­va de gêne­ro e raça, se não con­si­de­ra­do, podem con­tri­buir para a per­pe­tu­a­ção de desi­gual­da­des socioeconômicas.