NPE 22: Gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro: a importância do gasto social em saúde e educação pública para a redução de desigualdades

Em nos­sa NPE nº022, bus­ca­mos com­pa­rar os dife­ren­tes impac­tos na gera­ção de empre­gos de um cho­que de deman­da por pro­du­ção naci­o­nal em seto­res asso­ci­a­dos à infra­es­tru­tu­ra físi­ca e à infra­es­tru­tu­ra soci­al, con­si­de­ran­do um recor­te de gêne­ro e raça. 

A par­tir dis­so, esti­ma­mos os empre­gos dire­tos, indi­re­tos e indu­zi­dos de um cho­que de R$ 100 milhões em cada um dos seguin­tes seto­res: cons­tru­ção (infra­es­tru­tu­ra físi­ca) e saú­de e edu­ca­ção públi­cas (infra­es­tru­tu­ra soci­al). 

Os resul­ta­dos indi­cam que os seto­res liga­dos à infra­es­tru­tu­ra soci­al têm capa­ci­da­de de gerar mais empre­gos do que o setor de infra­es­tru­tu­ra físi­ca. Ade­mais, um gas­to dire­ci­o­na­do à infra­es­tru­tu­ras soci­ais gera qua­se 3 vezes mais empre­gos para mulhe­res que um cho­que dire­ci­o­na­do ao setor de cons­tru­ção. 

Além dis­so, as mulhe­res negras rece­bem duas vezes mais empre­gos quan­do o cho­que se dá em infra­es­tru­tu­ras soci­ais e ocu­pam 18,8% dos empre­gos gera­dos na saú­de públi­ca e 15,4% dos empre­gos em edu­ca­ção públi­ca, o que con­tras­ta sig­ni­fi­ca­ti­va­men­te com a par­ti­ci­pa­ção delas no setor de cons­tru­ção, isto é, ape­nas 8,2% das vagas ocupadas.

Referências bibliográficas

Agenor, P. R.; Canuto, O. (2015) Gender equality and economic growth in Brazil: a long-run analysis. Journal of Macroeconomics, v.43, p. 155-172. 

Antonopoulos, R., Kim, K., Masterson, T., e Zacharias, A. Why President Obama should care about care: An effective and equitable investment strategy for job creation (No. 108). Public Policy Brief. 2010

Bottega, Ana; Bouza, Isabela; Cardomingo, Matias; Pires, Luiza Nassif; Pereira, Fernanda Peron.  2022. Quanto fica com as mulheres negras? Uma análise da distribuição de renda no Brasil (Nota de Política Econômica no 018). MADE/USP

Bertholo, L. Passos, L. Fontoura, N. Bolsa Família, autonomia feminina e equidade de gênero: o que indicam as pesquisas nacionais? Texto para discussão n. 2331, Ipea, 2017.

Bango, J. Cuidados na América Latina e no Caribe em tempos de Covid-19: em direção a sistemas integrais para fortalecer a resposta e a recuperação. Cepal e ONU mulheres, 2020. 

Davis, A. Women, Race and Class. New York: Vintage Books, 1983. 

De Henau, J.; Himmelweit, S. The gendered employment gains of investing in social vs. physical infrastructure: evidence from simulations across seven OECD countries. IKD Working Paper No. 84, 2020. 

Elson, D. (2017). Recognise, reduce and redistribute unpaid work: How to close the gender gap. New Labour Forum, 26(2), 52–61.

Feijó, J.; Neto, V. P.; Cardoso, L. (2022) Maternidade e a participação feminina no mercado de trabalho. Blog do IBRE-FGV. Disponível em: https://blogdoibre.fgv.br/posts/maternidade-e-participacao-feminina-no-mercado-de-trabalho.

Ferrant, G., Pesando, L. M., & Nowacka, K. (2014). Unpaid care work: The missing link in the analysis of gender gaps in labour outcomes. Boulogne-Billancourt, France: OECD Development Centre.

Fraser, N. Contradictions of capital and care. New Left Review, n.100, July/August 2016.

IBGE. Matriz de insumo-produto 2015. Sistema de Contas Nacionais, 2022. 

Ilkkaracan I., Kim, K. e Kaya, T.,. A Public Investment Priority for Job Creation in Turkey: Expanding Child Care and Preschool Services (No. op_50). Levy Economics Institute. 2015

ILO, Making decent work a reality for domestic workers Progress and prospects ten years after the adoption of the Domestic Workers Convention, 2011 (No. 189), June 2021.

Jesus, J. C.. Trabalho doméstico não-remunerado no Brasil: uma análise de produção, consumo e transferência. Tese (Doutorado), CEDEPLAR/UFMG, jun. 2018.

Melo, H.; Considera, C.; Sabbato, A.. Dez anos de mensuração dos afazeres domésticos no Brasil. In: Fontoura, N.; Araújo, C. (Orgs.). Uso do tempo e gênero. Rio de Janeiro: UERJ/SPM/IPEA, 2016.

Nassif-Pires, L., Cardoso, L. and Oliveira, A.L.M.D., 2021. Gênero e raça em evidência durante a pandemia no Brasil: o impacto do Auxílio Emergencial na pobreza e extrema pobreza. (Nota de Política Econômica, 10). MADE/USP.

Passos, L.;Wajnman, S. ; Waltemberg, F. D. . The Bolsa Família Program: Reflections on Its Role in Social Protection and Gender Relations in Brazil.. In: Sacchet, T.; Mariano, S; Carloto, C. (Org.). Women, Gender and Conditional Cash Transfers: Interdisciplinary Perspectives from Studies of Bolsa Família. 1ed.Nova Iorque: Routledge, 2020, v. , p. 82-107.

Pinheiro, L.S., Lira, F., Rezende, M.T. and Fontoura, N.D.O. Os desafios do passado no trabalho doméstico do século XXI: reflexões para o caso brasileiro a partir dos dados da PNAD contínua. 2019

Proni, M.; Gomes, D., 2015. Precariedade ocupacional: uma questão de gênero e raça. Estudos Avançados 2015 (N.29), p. 137-151.

Rossi, P.; David, G.; Chaparro, S. (2020) Política fiscal, desigualdades e direitos humanos. In: Dweck, E.; Rossi, P.; Oliveira, L. M. (org). Economia Pós-pandemia: desmontando os mitos da austeridade fiscal e construindo um novo paradigma econômico. Autonomia Literária.

Silveira, F. G. ; Passos, Luana . Impactos distributivos da tributação e do gasto social-2003 e 2008. In: Afonso, J. R.; Lucik, M. R.; Orair, R.; Silveira, F.. (Org.). Tributação e desigualdade. 1 ed.Belo Horizonte: Letramento, 2017, v. 1, p. 451-500.

Silveira, F.G.; Ribas, T.; Cardomingo, M.; Carvalho, L. (2021). Impactos distributivos da educação pública brasileira: evidências a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018. (Nota de Política Econômica, 11). MADE/USP.

Silveira, F.G.; Rezende, F.; Afonso, J. R.; Ferreira, J. (2014). Fiscal Equity: distributional impacts of taxation and social spending in Brazil. International Policy Centre for Inclusive Growth (IPC - IG). Working Paper, number 115.