NPE 04: De parasitas às palmas na janela: uma análise dos gastos com funcionalismo no Brasil

Quan­do o assun­to é refor­ma admi­nis­tra­ti­va, tan­to a posi­ção ofi­ci­al do gover­no, ilus­tra­da na Pro­pos­ta de Emen­da Cons­ti­tu­ci­o­nal 32/2020, quan­to a de impor­tan­tes ato­res do deba­te econô­mi­co, são foca­das na neces­si­da­de de redu­zir os gas­tos com fun­ci­o­na­lis­mo públi­co. Argu­men­ta-se que os salá­ri­os do setor públi­co, por serem fixa­dos em pata­ma­res mui­to ele­va­dos, são res­pon­sá­veis por exau­rir recur­sos do gover­no de for­ma des­pro­por­ci­o­nal. A quar­ta Nota de Polí­ti­ca Econô­mi­ca do Made res­sal­ta a neces­si­da­de de rela­ti­vi­zar­mos ambos os argu­men­tos, indi­can­do que sob vári­as métri­cas o fun­ci­o­na­lis­mo bra­si­lei­ro não cons­ti­tui uma ano­ma­lia em com­pa­ra­ção com o res­to do mun­do. A pan­de­mia evi­den­ci­ou a essen­ci­a­li­da­de da garan­tia de bens e ser­vi­ços públi­cos de qua­li­da­de à popu­la­ção. Os ser­vi­do­res, cha­ma­dos de para­si­tas pelo Minis­tro Pau­lo Gue­des no iní­cio do ano, foram ova­ci­o­na­dos nas jane­las pelas casas em iso­la­men­to soci­al. O Bra­sil não gas­ta mais em fun­ci­o­na­lis­mo do que outros paí­ses. A média de paí­ses da OCDE gas­ta em ter­mos abso­lu­tos mais que o dobro – 2,2 vezes – com ser­vi­do­res do que nós, quan­do con­si­de­ra­mos o tama­nho da popu­la­ção. A cobran­ça para que nos­sos ser­vi­ços atin­jam pata­ma­res de qua­li­da­de simi­la­res aos dos paí­ses desen­vol­vi­dos gas­tan­do menos deve ter esse núme­ro em vis­ta. Se con­si­de­rar­mos a des­pe­sa com edu­ca­ção, por exem­plo, o cená­rio é ain­da mais dís­par: nos­so salá­rio ini­ci­al para pro­fes­so­res de ensi­no fun­da­men­tal é o menor entre todos os paí­ses com dados dis­po­ní­veis. O gas­to per capi­ta bra­si­lei­ro em saú­de, mes­mo com a exis­tên­cia do SUS, é infe­ri­or ao pata­mar de outros paí­ses emer­gen­tes. Se a meta de todas as par­tes envol­vi­das na dis­cus­são da PEC 32 é a bus­ca por ser­vi­ços públi­cos uni­ver­sais e de qua­li­da­de, então o mote da eco­no­mia de recur­sos não pode ser o úni­co a ori­en­tar nos­sas decisões.