NPE 29: Crescimento com maior poder de compra: os efeitos macroeconômicos da valorização do salário mínimo
Em fevereiro de 2011, a Lei 12.382 estabeleceu reajustes anuais no salário mínimo de acordo com a inflação do ano anterior e a média do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. Na prática, esta regra já era adotada antes de 2011, mas por meio de medidas provisórias. Em 2020, porém, a lei foi alterada e passou a repor apenas a inflação. Esta Nota analisa os efeitos econômicos de curto prazo de um reajuste do salário mínimo de 3,02% a partir de uma Matriz de Contabilidade Social (MCS) para o Brasil. A valorização simulada é equivalente à soma das variações do PIB em 2018 e 2019, representando o ganho real do poder de compra do salário mínimo caso o reajuste em 2020 e 2021 considerasse a regra vigente entre 2011 e 2019.
Quando consideramos a geração de emprego, é comum a suposição de que aumentos reais acarretariam em perda de postos de trabalho. Contudo, a literatura empírica para o Brasil tem mostrado que essa relação é mediada pelo contexto econômico. Embora aumentos do mínimo tenham acarretado em perda de empregos para os anos 1980 e 1990, isso não foi verdade nos anos 2000. Os resultados desta Nota também sugerem que o impacto do reajuste sobre a atividade econômica depende das respostas do setor público, através de políticas compensatórias (isto é, cortes de gastos ou aumento da tributação face ao maior custo resultante do reajuste), e do setor privado ao aumento do salário.
Na ausência de compensações, o reajuste representaria uma contribuição final de 0,16% ao PIB com efeito positivo à distribuição de renda, visto que a metade mais pobre da população tem, em média, a maior parte de seus rendimentos vinculada ao salário mínimo. Adicionalmente são realizadas simulações que consideram compensações a esse custo, considerando um impacto estimado de R$ 10,6 bilhões (preços de 2019) para o setor público e de R$ 5,9 bilhões para o setor privado (em termos de aumento das despesas com salários e benefícios). Em relação ao setor público, em particular, uma redução de despesas proporcional ao aumento do gasto advindo do reajuste pode levar a um efeito líquido negativo equivalente a 0,01% do PIB. Já as soluções que afetem majoritariamente o topo da distribuição preservam os resultados positivos sobre a atividade econômica (medidos em termos de contribuição ao PIB), com magnitude entre 0,02 e 0,08% do PIB, a depender da resposta do setor privado vir pelo corte de investimentos ou lucros, respectivamente.