NPE 34: Considerações sobre o efeito distributivo e a perda arrecadatória de um reajuste da tabela do IRPF

Esta Nota ana­li­sa os impac­tos arre­ca­da­tó­ri­os e dis­tri­bu­ti­vos de pro­pos­tas de aumen­tos da fai­xa de isen­ção para o impos­to de ren­da sobre pes­soa físi­ca (IRPF), tema que foi alvo das cam­pa­nhas pre­si­den­ci­ais de 2022 e está atu­al­men­te em dis­cus­são. Nos­sos resul­ta­dos demons­tram que a adi­ção de medi­das de aumen­to da pro­gres­si­vi­da­de do impos­to a algu­mas das pro­pos­tas é sufi­ci­en­te para miti­gar os efei­tos arre­ca­da­tó­ri­os e dis­tri­bu­ti­vos nega­ti­vos delas. A ado­ção de uma alí­quo­ta de 35% para o 1% mais rico jun­to com a reto­ma­da da tri­bu­ta­ção de lucros e divi­den­dos da pes­soa físi­ca neu­tra­li­za­ria a ele­va­ção da desi­gual­da­de e a que­da de recei­tas gera­das por deter­mi­na­dos aumen­tos da fai­xa de isen­ção. Simu­la­mos o efei­to de três pro­pos­tas de atu­a­li­za­ção da tabe­la e adi­ci­o­na­mos outros três cená­ri­os, onde com­bi­na­mos as pro­pos­tas ori­gi­nais com as medi­das pro­gres­si­vas com­pen­sa­tó­ri­as de adi­ção de uma fai­xa na tabe­la e reto­ma­da da tri­bu­ta­ção de lucros e divi­den­dos.  A pri­mei­ra (P1) é a pro­pos­ta defen­di­da pelo atu­al gover­no de aumen­tar a fai­xa de isen­ção para R$2112,00 e per­mi­tir uma dedu­ção sim­pli­fi­ca­da de R$568,00, o que será equi­va­len­te a isen­tar aque­les que rece­bem até dois salá­ri­os míni­mos (R$2.640,00), a segun­da (P2) cor­ri­ge a tabe­la pela infla­ção acu­mu­la­da, aumen­tan­do a fai­xa de isen­ção para R$2.773,36, enquan­to a ter­cei­ra (P3) é a pro­pos­ta do  PL 2.140/22, simi­lar ao que era pro­pos­to na épo­ca da elei­ção, que aumen­ta­ria a fai­xa de isen­ção para R$5.200,00 men­sais. Nos­sos resul­ta­dos mos­tram que, inde­pen­den­te­men­te da pro­pos­ta, quan­do o aumen­to da fai­xa de isen­ção não é com­bi­na­do com outras medi­das pro­gres­si­vas como a reto­ma­da do impos­to sobre lucros e divi­den­dos, há per­da de arre­ca­da­ção. No caso das pro­pos­tas P1, P2 e P3 tería­mos per­das res­pec­ti­vas de R$4 bilhões, R$45,9 bilhões e R$90,2 bilhões. Obser­va­mos tam­bém um aumen­to da desi­gual­da­de medi­da pelo índi­ce de Gini em todos os casos, ape­sar de haver uma peque­na dimi­nui­ção da apro­pri­a­ção da ren­da pelo 1% mais rico. A pro­pos­ta do PL 2.140/22, por exem­plo, aumen­ta­ria o índi­ce de Gini em qua­se 1% em rela­ção à tabe­la atu­al. Demons­tra­mos, porém, que esses efei­tos nega­ti­vos pode­ri­am ser neu­tra­li­za­dos no caso das pro­pos­tas P1 e P2 pela cri­a­ção da alí­quo­ta de 35% para o 1% mais rico e da reto­ma­da da tri­bu­ta­ção de lucros e divi­den­dos da pes­soa físi­ca com alí­quo­ta line­ar de 15%. Com essa adi­ção, para as pro­pos­tas P1 e P2 have­ria um aumen­to do poten­ci­al redis­tri­bu­ti­vo do IRPF e um ganho de recei­ta de R$42,04 bilhões e R$102,9 milhões, res­pec­ti­va­men­te, em com­pa­ra­ção com o sis­te­ma atu­al. No caso da pro­pos­ta P3, a ado­ção de medi­das pro­gres­si­vas adi­ci­o­nais não seria sufi­ci­en­te para com­pen­sar por com­ple­to o aumen­to no Gini e a per­da de arre­ca­da­ção, tal que, nes­te caso, ain­da tería­mos uma per­da de R$ 46,3 bilhões.