NPE 05: Como neutralizar os efeitos regressivos de uma tributação sobre carbono no Brasil?

A pre­sen­te nota pro­põe dis­cu­tir os efei­tos dis­tri­bu­ti­vos de uma polí­ti­ca de tri­bu­ta­ção de car­bo­no para o Bra­sil. Ten­do em vis­ta a ausên­cia de pro­pos­tas ofi­ci­ais nes­sa dire­ção, pro­cu­ra-se ofe­re­cer uma sín­te­se de como um tri­bu­to de alí­quo­tas equi­va­len­tes a 5 e 10 dóla­res por tone­la­da de car­bo­no emi­ti­da afe­ta­ria a dis­tri­bui­ção de ren­da entre as famí­li­as bra­si­lei­ras. A esco­lha de duas alí­quo­tas rela­ti­va­men­te bai­xas se baseia nas expe­ri­ên­ci­as já exis­ten­tes na Amé­ri­ca Lati­na e pro­cu­ra indi­car um cená­rio de aumen­to gra­du­al do peso do tri­bu­to na medi­da em que se apro­fun­da a des­car­bo­ni­za­ção da eco­no­mia bra­si­lei­ra.  Nes­se exer­cí­cio, par­te-se da iden­ti­fi­ca­ção das pega­das de car­bo­no das famí­li­as bra­si­lei­ras, isto é, de quan­to o con­su­mo des­sas famí­li­as equi­va­le em ter­mos de emis­sões de car­bo­no na atmos­fe­ra. A par­tir dis­so, é pos­sí­vel não ape­nas simu­lar um cená­rio de tri­bu­ta­ção, mas tam­bém dis­cu­tir quais são os prin­ci­pais seto­res que con­tri­bu­em para essas emis­sões e como estas estão dis­tri­buí­das ao lon­go de dife­ren­tes estra­tos de ren­da. Os resul­ta­dos obti­dos mos­tram que o tri­bu­to per­mi­te arre­ca­dar um total anu­al de R$ 13,6 bilhões para a alí­quo­ta de US$ 5/tonCO2eq e 27,2 bilhões para a alí­quo­ta de US$ 10/tonCO2eq. Inde­pen­den­te­men­te das alí­quo­tas pro­pos­tas, a tri­bu­ta­ção de car­bo­no no Bra­sil apre­sen­ta cará­ter regres­si­vo e ten­de a pena­li­zar os mais pobres, ampli­an­do a desi­gual­da­de de ren­da. A ele­va­ção no índi­ce de Gini é da ordem de 0,1% e 0,19% para as duas alí­quo­tas, res­pec­ti­va­men­te. Dian­te des­se resul­ta­do, a nota pro­põe neu­tra­li­zar esse efei­to nega­ti­vo da tri­bu­ta­ção por meio de trans­fe­rên­ci­as de ren­da. Para tan­to, é pre­ci­so res­sar­cir total­men­te a ren­da dos 34% mais pobres para que o índi­ce de Gini não se alte­re após a ado­ção de um tri­bu­to sobre o car­bo­no. É pos­sí­vel, toda­via, ir além: o mon­tan­te arre­ca­da­do com o tri­bu­to per­mi­te ofe­re­cer um dese­nho de trans­fe­rên­ci­as de ren­da que reduz o índi­ce de Gini. Nes­se caso, para além do res­sar­ci­men­to dos 34% mais pobres, pro­põe-se dois cená­ri­os de expan­são para o Pro­gra­ma Bol­sa Famí­lia – o pri­mei­ro aumen­tan­do o valor do bene­fí­cio e o segun­do ampli­an­do o núme­ro de bene­fi­ciá­ri­os. A des­pei­to de peque­nas vari­a­ções, os resul­ta­dos redu­zi­ri­am o Gini em cer­ca de 0,5% no cená­rio de alí­quo­ta menor e em cer­ca de 1% no de alí­quo­ta mai­or. Em suma, é pos­sí­vel trans­for­mar o tri­bu­to sobre car­bo­no em um meca­nis­mo capaz de redu­zir as dis­pa­ri­da­des de ren­da no Brasil.