Simulação do impacto do “novo Bolsa Família” sobre a pobreza e a extrema pobreza

O can­di­da­to Lula publi­cou ontem um novo docu­men­to de com­pro­mis­sos, a “Car­ta para o Bra­sil do ama­nhã”. Sobre pro­gra­mas de trans­fe­rên­cia de ren­da, Lula afir­ma que man­te­rá o valor de R$ 600 para atu­ais bene­fi­ciá­ri­os do Auxí­lio Bra­sil, além de con­ce­der um novo bene­fí­cio de R$ 150 para cada cri­an­ça de até 6 anos.

Ain­da que o can­di­da­to Bol­so­na­ro tam­bém afir­me que man­te­rá o valor do bene­fí­cio em R$ 600, não há pre­vi­são de recur­sos no Orça­men­to de 2023. Por­tan­to, caso siga valen­do o Orça­men­to como está no Con­gres­so, o bene­fí­cio retor­na­rá para o valor de R$ 400, tal como esta­be­le­ci­do pela MP 1.076/21 e finan­ci­a­do em 2022 com os recur­sos da “PEC dos Pre­ca­tó­ri­os” (PEC 23/21).

Nes­se blogs­pot apre­sen­ta­mos esti­ma­ti­vas do impac­to da pro­pos­ta de Lula, quan­do com­pa­ra­da com o cená­rio em que o bene­fí­cio é con­ce­di­do con­si­de­ran­do o Orça­men­to em tra­mi­ta­ção. Para isso uti­li­za­mos a quin­ta entre­vis­ta da PNAD Con­tí­nua, que infor­ma todos os ren­di­men­tos da famí­lia (salá­ri­os, apo­sen­ta­do­ri­as, BPC e etc) para o ano de 2021. 

Como ain­da não é pos­sí­vel obter essa infor­ma­ção para 2022, foi pre­ci­so esta­be­le­cer­mos algu­mas hipó­te­ses para iden­ti­fi­ca­ção dos poten­ci­ais bene­fi­ciá­ri­os do Auxí­lio Bra­sil (AB) a par­tir dos dados do ano pas­sa­do. Con­si­de­ra­mos como bene­fi­ciá­ri­os do novo pro­gra­ma todas as pes­so­as que decla­ra­ram ter rece­bi­do o anti­go Pro­gra­ma Bol­sa Famí­lia (PBF) na PNAD‑C ao lon­go de todo o ano. Além des­sas, tam­bém incluí­mos aque­las que foram entre­vis­ta­das no quar­to tri­mes­tre (quan­do já vigo­ra­va o AB), não rece­be­ram PBF, mas decla­ram ter rece­bi­do outros bene­fí­ci­os do governo.

Fei­ta a iden­ti­fi­ca­ção dos bene­fi­ciá­ri­os já aten­di­dos no ano pas­sa­do, bus­ca­mos repro­du­zir a expan­são de 7,5 milhões de pes­so­as aten­di­das pelo AB que ocor­reu ao lon­go de 2022. Para isso con­si­de­ra­mos o quan­to o núme­ro de bene­fi­ciá­ri­os foi expan­di­do em cada esta­do, ampli­an­do a con­ces­são do bene­fí­cio na PNAD‑C na mes­ma pro­por­ção. As famí­li­as ele­gí­veis foram aque­las com ren­da men­sal per capi­ta menor que R$ 210 e que não eram bene­fi­ciá­ri­as de outros programas.

Assim, a simu­la­ção con­si­de­ra a manu­ten­ção do bene­fí­cio de R$ 600 para as novas famí­li­as iden­ti­fi­ca­das como poten­ci­ais bene­fi­ciá­ri­as, além do adi­ci­o­nal de R$ 150 pago por cri­an­ça de até 6 anos. Nos­sas esti­ma­ti­vas indi­cam que a manu­ten­ção do atu­al piso do bene­fí­cio, ao invés da sua redu­ção para R$ 400, seria res­pon­sá­vel por man­ter apro­xi­ma­da­men­te 4,3 milhões de pes­so­as fora da linha de extre­ma pobre­za* e 3,4 da linha de pobre­za. Além dis­so, o acrés­ci­mo por cri­an­ça, seria res­pon­sá­vel por reti­rar 1,3 milhões de pes­so­as da extre­ma pobre­za e 3,8 milhões da pobreza.

A roti­na uti­li­za­da e demais resul­ta­dos podem ser con­sul­ta­dos aqui.

* A linha da extre­ma pobre­za, cal­cu­la­da pelo Ban­co Mun­di­al, é de US$ 1,90 por dia medi­do em pari­da­de de poder de com­pra (PPP US$), que con­si­de­ra o cus­to de um mes­mo con­jun­to de bens em cada um dos paí­ses, a con­ver­são indi­ca uma ren­da no Bra­sil de R$ 143 por mês. Já a linha de pobre­za é dada por PPP US$ 5,5 por dia, ou R$ 416 por mês.